sexta-feira, dezembro 17, 2004

Miragem do Porto

Eu sou aquele navio
NO mar sem rumo e sem dono
Tenho a miragem do portoPra reconfortar meu sono
E flutuar sobre as águas
Da maré do abandono

Eh! Lá no mar
Eu vi uma maravilha
Vi o rosto de uma ilha
Numa noite de luar.
Êta luarLuminou meu navio
Quem vai lá no mar bravio
Não sabe o que vai achar

E sou a ilha deserta
Onde ninguém que chegar
Lendo a rota das estrelas
Na imensidão só mar
Chorando para um navio
Ai, Ai, Ui, Ui,
Que passou sem lhe avistar
(Lenine e Bráulio Tavares)

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Inverno (Anhangabaú da Felicidade)

A minha casa é uma caixa de papelão ao relento
Brasa dormindo contra o vento
Semente plantada no cimento
Criança na calçada

A minha casa é geladeira televisão sem nada dentro
Fogo que se alimenta do seu próprio alimento
Corpo com corpo dando alento
Pra campanha do agasalho

O meu cenário é a fria luz da madrugada
Dando espetáculo por nada
Calçada da fama iluminada
Pela Eletropaulo

A minha casa é a maloca rasgada no futuro
É o inverno é o eterno enquanto duro
Osso duro osso duro que ninguém
Há de roer

A minha casa é o céu e o chão caroço bruto
Catado no vão do viaduto
Dando pro Anhangabaú
Da felicidade

(José Miguel Wisnik)